quarta-feira, 20 de abril de 2016

Benfica vs Bayern Munique - As mudanças de Guardiola




Dadas as dificuldades na primeira mão, seria expectável que o treinador espanhol mudasse qualquer coisa para o jogo da Luz. A entrada de Xabi Alonso abdicando de Lewandowski anunciou mexidas na disposição dos alemães.

Para contrariar a pressão do Benfica, o Bayern com bola apresentou-se com uma linha de 4 defesas, onde os laterais Alaba e Lahm não se projectavam muito, Alonso como pivô e, ao contrário do que sucedeu na primeira mão, Thiago e Vidal constantemente entre linhas com Muller, avançado, o mais profundo possível, sendo que, tal como em Munique eram Douglas Costa e Ribery que asseguravam largura.

Os laterais baixos fizeram com que os extremos do Benfica, Sálvio e Carcela, se adiantassem na pressão, por vezes já bem dentro do meio-campo contrário. Ora, com Thiago e Vidal entrelinhas e mais adiantados, a equipa do Benfica por vezes teve dificuldade em permanecer compacta, com Sanches e Fejsa na dúvida se haveriam de assegurar cobertura aos extremos ou permanecer baixos e mais perto da linha defensiva com os médios bávaros. 

Preocupação constante do Bayern em ter jogadores a ameaçar profundidade, nomeadamente Vidal a juntar-se várias vezes a Muller em movimentos verticais. Nem sempre, aliás nem foi predominante, procuravam o passe para as costas da linha defensiva mas este movimento tinha como objectivo fazer baixar os defesas do Benfica. Nota para o facto, de em alternativa também Lahm e Alaba aparecem por dentro no espaço entre linhas, fazendo a equipa o respectivo ajuste, nomeadamente Vidal e Thiago, que nesses momentos podiam ficar como apoios mais recuados

Ainda que a disposição em campo fosse diferente quando em comparação com a primeira mão, o objectivo da circulação de bola do Bayern permaneceu a mesma, dar condições favoráveis aos extremos para progredirem com bola. Na minha opinião, a diferença residiu além da dúvida criada aos dois médios encarnados e à constante profundidade, também na forma como principalmente do lado direito alemão o posicionamento alemão permitiu a Douglas Costa receber com espaço. Com o decorrer da primeira parte, Lahm assumiu posições cada vez mais interiores tentando fixar Carcela, e por outro lado pareceu existir preocupação de algum jogador do Bayern (frequentemente Muller) ocupar espaço interior direito tendo como objectivo fixar Eliseu e retardar naturalmente a sua basculação para chegar até Douglas que dava largura. Portanto, com esta disposição, o brasileiro quando recebia passe mais longo de Alonso ou Kimmich tinha espaço para avançar e também é por aqui que se explica o facto de Bayern ter chegado mais vezes ao último terço. Nota para o facto de com Douglas Costa à largura, várias vezes Lahm apareceu na ruptura em espaço interior, sendo o lance do golo o melhor exemplo, com o Benfica a ter dificuldade nas coberturas quando isto acontecia. À esquerda, Alaba essencialmente como apoio recuado junto dos centrais, mas também com capacidade para se adiantar no espaço entre linhas e a arrastar marcações.

Naturalmente o Benfica teve dificuldades para controlar a estratégia adversária. A procura de profundidade fez baixar a linha defensiva várias vezes e a equipa nem sempre foi compacta neste aspecto. Tendo o Bayern maior presença entre linhas e em zonas mais adiantadas a baralhar as marcações, o Benfica não evitou que a bola fosse de fora para o meio por dentro do bloco adversário (Sanches e Fejsa na primeira mão estiveram muito bem nas coberturas aos extremos, mas com adiantamento de Vidal e Thiago na Luz e uma ou outra falha de concentração as coisas foram diferentes). Guardiola na conferência de imprensa referiu que gostou bastante do ajustamento a 4 da linha defensiva. De facto, com o Bayern a chegar várias vezes ao último terço em situação de cruzamento a resposta dos defesas encarnados (colectiva e individual) é digna de registo

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Bayern Munique vs Benfica - Defender no meio-campo defensivo

Na antevisão do jogo da primeira mão, Guardiola disse sobre o Benfica "defendem 20 metros longe da sua baliza". Tal como previsto em vários momentos da partida na Alemanha, os encarnados apresentaram-se defensivamente em 4x4x2 com o bloco médio e linhas muito compactas.

No final da partida, Guardiola voltou a falar sobre o Benfica "é uma equipa que não deixa espaço entre linhas, é complicado fazer golos". Talvez por isso, o Bayern tentou fazer circular a bola à largura, procurando constantemente rápidas variações de corredor, principalmente na primeira parte. A forma como os jogadores se distribuíram em campo, apesar de não ser novidade nos alemães, não deixa de trazer inovação ao jogo. Com o Benfica em bloco médio, o Bayern respondeu com Alaba e Kimmich (centrais) e Bernat lateral-esquerdo inicialmente pouco subido e na mesma linha dos centrais, com 3 jogadores permanentemente fora do bloco encarnado, Thiago mais no espaço interior esquerdo, Vidal no meio e Lahm que apesar de ser lateral juntava-se aos colegas em espaço interior à direita. Ribery e Douglas Costa eram os extremos que asseguravam largura com Muller e Lewandowski no meio entre as duas linhas encarnadas. A disposição pode ser vista na imagem seguinte

Partindo da premissa enunciada por Guardiola no parágrafo anterior, o Bayern na primeira parte procurou circular a bola com alguma paciência em zonas baixas, através da linha defensiva e dos 3 médios, tendo como objectivo criar situações favoráveis de desequilíbrio para os extremos. Nestas circunstâncias raramente jogou entre linhas e mesmo aí, dada a falta de inserção dos médios Lewandowski e Muller acabaram por procurar colegas à largura. Com efeito, nos primeiros 45 minutos Vidal e Thiago só se adiantaram quando a bola entrava no último terço à largura (normalmente em Douglas Costa ou Ribery) e a possibilidade de cruzamento era elevada (referência óbvia para o lance do primeiro golo.) Pontualmente Bernat também se adiantou auxiliando Douglas Costa.

O Benfica manteve o bloco médio tendo como principal prioridade evitar o tal jogo entre linhas, colocou muita gente no corredor central. Sabendo que o Bayern iria mudar de corredor através de passes longos para os extremos seria importante as ajudas aos laterais para evitar situações de 1x1. Pizzi ou Gaitan seriam as prioridades no auxílio a André Almeida e Eliseu mas quando estes não estiveram presentes, Fejsa e Renato Sanches deram uma boa resposta basculando e assegurando apoio. Se à direita Pizzi esteve quase sempre próximo de André Almeida, à esquerda Gaitan em alguns lances adiantou-se pois passou a ter como referência o posicionamento de Lahm e quando a bola chegava a Douglas Costa o argentino encontrava-se longe e incapaz de auxiliar Eliseu. A linha defensiva do Benfica teve naturalmente uma postura conservadora. Bom controlo da profundidade, e à mínima ameaça recuavam, nomeadamente quando a bola entrava em Ribery ou Douglas Costa, tentando dar tempo aos restantes colegas para se juntarem. Centrais só saiam do meio em última necessidade, deixando as coberturas aos laterais para outros.

A segunda parte começou com uma ligeira mexida no Bayern que nos primeiros minutos colocou algumas dificuldades ao Benfica. Thiago e Lahm começaram a inserir-se entre linhas (à vez) numa fase mais precoce da construção, o que criou dúvidas à linha média do Benfica fazendo com que recuassem mais cedo. Nesta fase, o Bayern procurou menos as variações de corredor para extremo do lado oposto, e mais lances de envolvimento ainda que sempre a fazer uso da largura. Os primeiros 10 minutos da segunda parte foi talvez o período de maior domínio alemão, ao obrigar a linha média e defensiva do Benfica a recuar devido à inserção dos médios, o Bayern dificultou a transição ofensiva encarnada.

Nos últimos 20 minutos, e depois de um período de maior equilíbrio, o Bayern teve maior espaço, talvez pelo natural desgaste que assolou o Benfica. Com o jogo mais partido, tentando os encarnados manter mais tempo a bola, e ao contrário do que aconteceu nos primeiros 70 minutos, o Bayern conseguiu verticalizar o jogo logo após a recuperação de bola. Novamente importância da largura concedida pelos extremos (até porque serviram de referência) e lances que acabaram em cruzamento. Nesta fase o Benfica defendeu várias vezes somente com 5/6 jogadores, ainda que quase sempre muito próximos uns dos outros à largura. Linha defensiva manteve naturalmente o comportamento defensivo conservador recuando à medida que os alemães avançavam.

Nota final para fazer referência à pressão alta do Benfica em algumas saídas do Bayern. Não é o objectivo deste post analisar esse momento do jogo mas é possível dizer que foi por aí que os encarnados conseguiram uma das suas melhores oportunidades de golo (remate de Jonas para defesa de Neur) mas também foi depois de uma situação de pressão no meio-campo adversário que o Bayern chegou ao golo