quinta-feira, 26 de maio de 2016

Braga vs Porto - A diferença entre estar e aparecer




No passado domingo foram notórias as dificuldades do Porto em criar situações de perigo frente ao Braga na primeira parte no Jamor e principalmente em chegar ao último terço bracarense. Pese embora a interessante a forma como a equipa de Paulo Fonseca se apresentou defensivamente, creio que existem aspectos no ataque portista que merecem ser revistos por dificultarem a fluidez  na circulação de bola.

A principal questão prende-se com o posicionamento dos 4 jogadores da frente, Varela e Brahimi nas alas, Herrera e André Silva no meio. Desde fases precoces da construção, quando a bola se encontrava em zonas baixas, os atacantes procuravam zonas adiantadas. Com a bola nos centrais, ou nos dois médios (Sérgio Oliveira e Danilo) que dirigiam o jogo atrás, o Porto frequentemente tinha entre linhas além de Herrera e André Silva um dos alas, sendo que, o outro podia assegurar largura ainda que estivesse na mesma linha de profundidade (pontualmente também recuaram ligeiramente por dentro, mais Varela).

Movimentos a ameaçar a profundidade dos homens da frente, obrigando linha defensiva contrária a baixar, e  ocupação do espaço entre linhas são formas interessantes para tentar ultrapassar qualquer adversário, mas o que me parece questionável é o facto de os jogadores do Porto permanentemente estarem nesse espaço ao invés de aparecer. Como é possível ver na imagem abaixo, a bola está em Maxi e estão 3 jogadores portistas entre linhas com Brahimi do outro lado à largura mas na mesma linha de profundidade. Estar/ter presença constante entre linhas pode ser uma forma de atrair adversários, mas neste caso creio que colocou em causa a fluidez da circulação de bola



Os laterais do Porto num primeiro momento de construção, à entrada do meio-campo adversário onde o Braga começava a aparecer, os laterais do Porto não se projectavam muito. À esquerda com Brahimi essencialmente mais à largura, Layun ainda ensaiou inserir-se por dentro, deixando o argelino mais aberto. Sérgio Oliveira e Danilo inicialmente também se encontravam próximos dos centrais, em espaço interior ou no corredor central, ora com os colegas da frente entre linhas é natural que, como é possível ver na imagem, não existisse ninguém na zona entre os avançados e médios do Braga (foi Varela quem pontualmente por lá apareceu), restando neste caso a Maxi jogar nos centrais. Esta fase do jogo acabou por ser relativamente confortável para a linha média do Braga, pois sem jogadores do Porto à sua frente não teve de lidar com dúvida de posicionamento que pudesse surgir. 

Como é visível por esta imagem o adiantamento dos jogadores da frente deu poucas opções a quem tinha a bola nos corredores laterais e pretendia jogar por dentro. Na imagem Maxi através de passe, mas o mesmo foi visível quando Layun e Brahimi tentaram conduzir em direcção ao meio, vindo de fora. Com os da frente colados à linha defensiva, a linha média Bracarense quase só tinha de se preocupar com o homem da bola.

Neste contexto não seria um jogo fácil para Danilo e Sérgio Oliveira, mas ainda assim creio que poderiam ter feito melhor. A sua abrangência de espaços era grande e por isso mesmo teria sido importante após o auxílio em zonas mais baixas da construção que aparecessem próximos dos da frente (na imagem Sérgio Oliveira é lento a dar apoio a Maxi). Não foram especialmente intensos no sentido de percepcionarem o espaço livre já dentro do meio-campo do Braga, constituindo-se raramente como opções válidas para dar continuidade à circulação por trás.

Nota final para o critério com bola, não só de Danilo e Sérgio Oliveira como também da linha defensiva. É verdade que o Porto num primeiro momento de cada jogada era paciente e procurava circular à largura (ainda que por fora e em zonas baixas) mas não conseguindo logo aí progredir, somaram algumas precipitações forçando passes e situações onde a probabilidade de sucesso era questionável através de passes longos e aéreos (especialmente Sérgio Oliveira que assumiu algum protagonismo nesta fase nem sempre da melhor forma). Sendo que, obviamente o peso do jogo e a desvantagem também podem ajudar a explicar esta fase na partida do Porto

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Intensidade - O caso de William Carvalho




O lance que trago em video termina com o 3º golo do Sporting em Braga no passado fim-de-semana e é relativamente fácil de explicar. Luiz Carlos tenta mudança de corredor com passe à largura para lateral esquerdo que se inseria simultaneamente. João Mário acompanha e intercepta bola, imediatamente William Carvalho percebe o espaço entre linhas na transição defensiva do Braga ocupando esse espaço recebendo bola e depois procura Slimani nas costas da linha defensiva estando o desequilíbrio criado.

William Carvalho é tido como um jogador "lento" e "pouco intenso", que "joga parado". Daí a necessidade de definir o que é, ou pode ser, intensidade em futebol. No caso concreto, quando João Mário recupera a bola, William é o primeiro a perceber o espaço vazio e no timming correcto desloca-se dando opção ao colega para passe vertical. A rapidez com que percepcionou o lance permitiu-lhe não só ser o primeiro a chegar como ter mais espaço e tempo para definir a jogada (nota para a preocupação em receber bola já de frente para a baliza bracarense).

Certamente existem jogadores velozes e "intensos" no sentido tradicional do termo que ganham vantagem por isso. Mas, no meu entendimento, será um erro menosprezar a intensidade que se manifesta na percepção do espaço a ocupar, principalmente quem o faz no timming adequado, porque para este tipo de jogador mais que a velocidade de deslocamento interessa o momento e as condições em que recebem a bola, sendo nestas circunstâncias que ganham vantagem.

William Carvalho, apesar dos altos e baixos deste ano, parece-me estar neste lote de jogadores, e se a isto juntarmos o critério que revela quando tem bola nomeadamente a variabilidade  de linhas de passe que procura com a melhoria em transição defensiva notória nesta última época, é justo dizer-se que estamos perante um pivô de topo do futebol europeu