sexta-feira, 17 de junho de 2016

Algumas notas sobre a Áustria

O segundo jogo da selecção portuguesa em França promete ser bastante diferente do primeiro frente à Islândia. Desde logo pela pressão a que os austríacos estão sujeitos em função de derrota por dois golos frente à Hungria mas também devido à forma como irão encarar o jogo.

A Áustria deverá apresentar-se em 4x4x1x1 com um pressing dos mais altos que podemos ver no Euro-2016. Com um bloco médio-alto, a pressão tem inicio a meio do meio-campo adversário. Janko é o homem mais adiantado, com o 10 Junuzovic a juntar-se de trás para a frente na pressão aos centrais. Se Portugal optar por sair a jogar curto, a linha defensiva pode contar com pouco tempo para definir os lances. Neste momento do jogo, Arnautovic à esquerda permanece em posição interior e dificilmente recua até bola entrar nas suas costas, mesmo que lateral se adiante. À direita apesar de partir de posição semelhante Harnik tende a recuar mais cedo se necessário.

O grande desafio de Portugal para este jogo será responder à pressão constante dos austríacos, porque se a primeira linha defensiva é arrojada, Alaba e  Baumgartlinger, os dois homens do meio-campo, também parecem ter ordem para encurtar espaços. São quem faz a cobertura aos extremos quando a bola entra nas suas costas e mesmo que por vezes sejam só dois a cobrir um espaço considerável de terreno, raramente abdicam de pressionar quem se encontra de frente para as duas últimas linhas austríacas, por vezes ainda dentro do meio-campo ofensivo. E aqui parece-me estar uma das chaves do jogo de amanhã. A construção portuguesa ainda não convenceu com os movimentos de dentro para fora do bloco dos médios no auxílio a Danilo, ficam muitas vezes de costas para a baliza adversária e podem somar perdas de bola importantes nessa zona do terreno, que se não originarem situações de golo para os austríacos podem pelo menos dificultar um jogo fluído da selecção, porque sem o adiantamento dos laterais e com os médios por vezes sobrepostos fora do bloco adversário, a Áustria pode sentir-se confortável no jogo.

A boa notícia é que apesar de algum arrojo na pressão, a linha defensiva da Áustria recua com facilidade e reage baixando aos movimentos em profundidade dos homens da frente, nomeadamente os centrais. Com Alaba e Baumgartlinger a cobrirem muito espaço a bola pode entrar nas suas costas ou na zona entre estes e os alas. É verdade que os austríacos contra a Hungria mostraram-se reactivos, ou seja, apesar do espaço que concedem quem é ultrapassado pela linha da bola recua rapidamente mas há condições para atacar com qualidade. Outro aspecto a explorar poderá ser a variação de corredor. Com os extremos adiantados na pressão, e a tendência dos dois homens do meio para bascular e pressionar haverá espaço interior do lado contrário ao da bola e este poderá ser um meio interessante para entrar no meio-campo adversário.

Ofensivamente variam entre as saídas curtas pelos centrais com ajuda dos médios e jogo directo para o avançado Janko que se disputa primeira bola em zona interior tem apoio dos extremos, enquanto que meio, Junuzovic aproxima. Os extremos variam entre ir ligeiramente dentro e permanecerem à largura, mas são os responsáveis pela característica ofensiva mais visível, (e que acaba por ser mais determinante) a grande profundidade que dão ao ataque. Não é raro ver Arnautovic e Harnik na mesma linha de Janko, bastante adiantados mesmo quando a bola ainda está recuada. Isto origina alguns passes verticais/jogo longo pelos colegas de trás que não foram especialmente eficazes contra a Hungria, até porque o jogador que recebe a primeira bola, se não for Janko, por vezes não tem o apoio devido. Ainda assim, nota para o facto de a Áustria quando tem a bola durante mais tempo pode colocar facilmente 4 jogadores à entrada da área adversária, o que retirando fluidez à circulação atrás, pode causar dificuldades à linha defensiva portuguesa se esta baixar sem o apoio dos médios.

Em zonas mais baixas, além dos centrais Alaba e Baumgartlinger tentam uma construção mais curta. Um deles pode inserir-se entre linhas à procura do passe vertical ou da referência à largura (laterais adiantam-se quando extremos vão para dentro, ainda que Fuchs tenha ensaiado entrar no espaço entre linhas com Arnautovic à largura). Se Portugal optar por baixar ligeiramente o bloco, tem na recepção de bola dos passes verticais entre linhas um bom momento de pressão, nomeadamente quando quem recebe bola são os extremos que recebem de costas e sem apoio próximo, não existe aproximação dos colegas nesse momento tornando complicada a vida do portador da bola. Pese estes momentos de alguma pausa, o jogo preferencial da Áustria parece ser colocar rapidamente os extremos de frente para a baliza adversária, através de variações de corredor. Importante médios portugueses assegurarem ocupação do meio, para que as solicitações dos extremos sejam por fora e não ultrapassem a linha média para não expor linha defensiva.

A transição defensiva austríaca também aparece como um aspecto passível de ser explorado, na minha  opinião. Com os 4 da frente muito adiantados, Alaba e Baumgartlinger têm no momento da perda especial importância (se um deles não estiver junto dos avançados). Mesmo aqui os dois do meio nem sempre abdicam de pressionar, sendo que, a linha defensiva, nomeadamente os centrais têm tendência para recuar. Com alguma preparação creio que existem condições para colocar a bola nas costas dos médios austríacos e progredir a partir daí em condições altamente favoráveis.

A selecção portuguesa é naturalmente favorita, e num jogo contra uma equipa que não deve ter grandes problemas em pressionar mais alto, é necessário controlo emocional e que os jogadores sejam mais criteriosos ao contrário do que aconteceu após o golo da Islândia na primeira jornada, para manterem a serenidade mesmo que comecem por perder algumas bolas fruto da pressão. 

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