quinta-feira, 24 de março de 2016

Tottenham - Posse larga/Jogo directo vs Bournmouth




O Tottenham de Pochettino é normalmente associado a um futebol que privilegia a posse de bola e o passe mais curto. Daí ter sido especialmente interessante a estratégia utilizada frente ao Bournmouth no seu último jogo, ainda que não tenha sido situação única.

Pochettino apresentou o habitual 4x2x3x1 com Dier e Dembélé (duplo-pivô) atrás de Eriksen , Alli  e Lamela (esquerda, meio e direita respectivamente) com Kane como ponta de lança. No inicio da construção um dos médios defensivos (essencialmente Dier) tende a baixar para junto dos centrais, formando uma linha de 3 a toda a largura do campo em zona baixa. Consequentemente os laterais (Walker à direita e Rose à esquerda) projectam-se bastante conferindo largura ao ataque, não sendo raras as vezes que se encontram bem dentro do meio-campo adversário quando a primeira linha tem bola em zona recuada.

O Bournmouth apresentou-se com duas linhas de 4 tendencialmente compactas, sendo pelo menos numa fase inicial complicado ao Tottenham jogar dentro do bloco adversário. Os spurs como consequência ao recuo de um médio, projectavam os laterais muito cedo. Lamela e Eriksen mesmo com a bola nos jogadores de trás já se encontravam em espaço interior/no corredor central. Dada a forma de defender do Bournmouth quem dirigia o jogo por trás dos spurs raramente conseguiu (como em outras ocasiões e que até originou o 2º golo) um passe vertical para o espaço entre linhas, no entanto, o posicionamento interior de Lamela (assim como o dos colegas) fez com que o médio esquerdo adversário ficasse muito por dentro, permitindo a Walker receber passes longos vindos de Wimmer (central esquerdo) e Dier com algum espaço e tempo. Mesmo quando tentava progredir pela esquerda e não conseguia com a bola a voltar para trás, o adiantamento de Walker foi sempre uma alternativa para a circulação voltar ao meio-campo adversário. Com a bola no inglês, Lamela penetrava em espaço interior entre central e lateral adversário, já que quem saia a pressionar nesta circunstância muitas vezes era o lateral direito do Bournmouth Smith. (nota para o primeiro golo Spur, ainda que resulte da acção de Walker, este tem espaço para progredir porque com bola em Lloris, é quem faz o passe longo, Gradel o médio direito do Bournmouth é atraído à linha de três e fica batido, tendo a restante equipa dificuldade em reagir).

Mas não foi para aproveitar a largura que o Tottenham recorreu ao passe longo. Também tentou o jogo directo sobre a última linha do Bournmouth e com sucesso. Aproveitando o tempo que era dado para definir aos 3 de trás, os spurs procuraram colocar a bola no espaço nas costas da defesa adversária através de movimentos em profundidade de Eriksen (de fora para dentro) ou de Walker. Também podiam procurar Kane mas para o espaço onde este se encontrava. Aqui o Tottenham foi especialmente superior, talvez devido à desvantagem, a linha média do Bournmouth era atraída à frente e a linha defensiva tinha tendência para baixar como forma de responder ao jogo directo, sendo que, os Spurs ganharam constantemente a segunda bola, quer através de Kane quando um colega procurava profundidade, quer pelo posicionamento no corredor central dos extremos que ficavam com a segunda bola (lance do terceiro golo)

quinta-feira, 3 de março de 2016

PSG vs Chelsea - Critério de pressão e espaço a proteger




O PSG juntamente com o Bayern Munique e Barcelona é talvez a equipa que mais faz por ter a bola, adicionando à inquestionável valia ofensiva individual, também qualidade colectiva e o jogo frente ao Chelsea na 1ª mão da Liga dos Campeões foi mais uma prova disso.

No entanto, sem bola os franceses tiveram alguma dificuldade em lidar o ataque do Chelsea, ainda que controlassem boa parte da partida. O PSG defende num bloco médio mas a linha defensiva é de risco praticamente nulo e tende a baixar, por vezes bastante cedo o que potencia o espaço entre linhas (onde o Chelsea jogou com uma facilidade inusitada para este nível). Neste cenário seria expectável que a linha média acompanhasse o recuo, mas acontece o contrário. Verratti, Thiago Motta e Matuidi (3 jogadores do meio-campo) saem constantemente ao portador da bola, até porque o PSG raramente não tenta pressionar quem tem a bola. Se a congruência já poderia ser questionável, é visível que quando um médio sai à pressão os restantes colegas do sector não asseguram cobertura o que também permite ao Chelsea jogar dentro do bloco adversário no corredor central. Os extremos (inicialmente Di Maria e Lucas) tendem a ficar abertos com a referência de posicionamento no lateral adversário nem sempre fechando espaço interior (Lucas com tendência a baixar para junto da linha defensiva). Nota igualmente para os acompanhamentos individuais feitos não só pelos centrais, como também dos restantes jogadores aos movimentos sem bola do Chelsea que não pareceram ser devidamente equacionados pelos colegas quando aconteciam

Na ânsia de pressionar os médios do PSG foram ao corredor lateral (nomeadamente à direita porque nem sempre Di Maria baixa) mas não protegiam o espaço central e a bola entrava no meio. Ao longo do jogo foi possível ver que a pressão do PSG tentava não raras vezes cortar linhas de passe atrasadas e para o lado, mas não impedia a progressão para a frente (essencialmente pela orientação corporal dos jogadores). É perceptível que  quem está mais longe da zona da bola nem sempre tem a preocupação de se colocar atrás da linha da bola entre esta e a baliza, isto permitiu ao Chelsea mudar de corredor por dento do bloco adversário

Por outro lado, com a bola no seu último terço, e porque nem sempre colocava muita gente no centro de jogo, o Chelsea conseguia jogar nos apoios recuados. No momento do passe para trás novamente era visível o conservadorismo da linha defensiva que permanecia baixa ou demorava a subir, em contraste com o adiantamento dos jogadores da linha média. Como alguns médios eram atraídos ao corredor lateral e os que se encontravam mais longe da bola não reajustavam, em alguns lances como é possível ver no video acima o corredor central encontra-se desprotegido, quando a bola volta para a frente após ter ido atrás.

Sendo uma equipa que gosta de ter bola, é visível que a transição defensiva do PSG é trabalhada. Como raramente coloca muitos jogadores à frente da linha da bola a atacar, acabaram por controlar boa parte dos contra-ataques do Chelsea. Ainda assim em alguns lances que trago no final do video, por vezes as características defensivas acima expostas mantiveram-se, desde logo pela pressão dos médios sem cobertura, com linha defensiva baixa e o Chelsea a sair através desse espaço. Notar também alguma falta de reacção à perda dos jogadores da frente, bem como a referência individual dos médios. Ao contrário do processo em organização defensiva, creio que para a transição ser ainda mais eficaz bastam alguns reajustes no posicionamento para o controlo do jogo na segunda mão ser mais efectivo