domingo, 23 de julho de 2017

Manchester City - construção vertical. Causas e consequências

Na época passada um dos movimentos mais característicos do Manchester City passava pelo recuo de Aguero para o espaço entre linhas servindo de apoio frontal, de costas para a baliza adversária, como suporte ao passe vertical proveniente normalmente dos centrais ou médio defensivo.

A situação voltou a repetir-se no primeiro jogo da pré-época diante do Manchester United. O curioso é perceber como a equipa está toda preparada essa situação e  os movimentos estão ligados para Aguero ter espaço para receber bola e os colegas lhe conferirem linha de passe quando a tem.

Aqui o principal destaque vai para o papel dos dois interiores (neste jogo na primeira parte De Bruyne e a promessa Foden). Numa das situações mais frequentes em termos de construção, os laterais ficam praticamente paralelos aos centrais + o pivô com os interiores a darem bastante profundidade, existindo uma dupla consequência, faz com que a linha média adversária tenha tendência para recuar conferindo assim espaço para a saída curta e permite, em teoria, aos médios estarem mais perto de Aguero (ou do avançado) para receberem a bola. 

Na imagem com a bola no central que tem espaço para conduzir é possível ver De Bruyne a abrir, Pogba a perseguir deixando espaço para Aguero baixar. Neste caso será Yaya Toure o apoio frontal.



Importante também o posicionamento dos extremos. Preferencialmente abertos conseguem fixar os laterais com a linha defensiva estendida à largura, o que também acaba por facilitar o passe vertical.

Quanto à eficiência deste tipo de construção no jogo com o United, a verdade é que nem sempre os citizens foram capazes de esperar pelo momento certo para procurarem o passe vertical, que também surgiu quando as hipóteses de sucesso eram diminutas, nomeadamente não tendo ainda desequilibrado o suficiente o adversário, nestas situações o United ainda se encontrava compacto e acabou por controlar alguns lances recorrendo sempre à perseguição a Aguero por parte de um central. Aqui o City foi mais eficaz quando conseguiu atrair a zonas baixas mais adversários.

Esta parece ser uma solução interessante e a ser utilizada contra equipas que procuram acompanhar os médios em marcação individual. No entanto, ao tornar o jogo declaradamente mais vertical o City corre o risco de perder fluidez e consistência na posse. 

Para o futuro da equipa fica a incógnita. Esta forma de construir faz com que os laterais não se adiantem muito e possam até juntar-se ao médio defensivo, chegou a acontecer neste jogo, e disfarce a falta de médios cuja principal característica é pautar o jogo de frente para o bloco adversário (a excepção será Gundogan). No entanto, com a contratação de Walker, Danilo, Mendy, laterais muito ofensivos, e Bernardo Silva, que se notabilizou a jogar de fora para dentro no Mónaco, fica a curiosidade para  entender como Guardiola irá estruturar e montar a equipa para este ano.

No futuro, e a manter-se este tipo de construção, voltarei ao tema para explorar de forma mais aprofundada o posicionamento do pivô, que também influencia o espaço que os centrais têm para conduzir, e como decorre o jogo do City depois de a bola chegar ao jogador que recebe o passe de Aguero. Neste jogo boa parte dos problemas também se deram aí.











domingo, 16 de julho de 2017

Benfica - qualidade individual e comportamento defensivo vs Young Boys




Nos últimos dois anos o comportamento defensivo do Benfica foi amplamente elogiado, sendo inclusive comparado ao Milan de Sacchi. De forma muito resumida e principalmente frente a equipas com qualidade individual os encarnados optaram por apresentar duas linhas de 4 mais os dois avançados, a linha defensiva começava alta muito próxima da linha média baixando somente quando existia ameaça de colocação de bola nas costas por parte do adversário, não descartando a hipótese de jogar com o fora-de-jogo. Quando se sentia confortável no jogo o Benfica, e fruto de zonas de pressão bem definidas e de um bloco muito compacto, anulou o jogo entre linhas do adversário e com uma linha média + avançados bem articulada tornou raras as vezes que o adversário conseguiu explorar o espaço na profundidade.

No jogo de ontem o Benfica não foi capaz de apresentar alguns dos comportamentos tão elogiados nos últimos tempos nomeadamente no comportamento da linha defensiva, e na minha opinião, tal se deve em primeiro lugar à falta de qualidade individual evidenciada. Não colocando em causa a evolução que os jogadores poderão ainda revelar, foram evidentes o acumular de erros.

O Benfica é conhecido pelo comportamento da linha defensiva. Dada a forma como a equipa joga o controlo do espaço nas costas é fundamental bem como a resposta aos cruzamentos e aqui começaram os problemas de ontem. Por um lado, a linha média, com destaque para Filipe Augusto, não foi capaz de encurtar espaço e pressionar o portador da bola para impedir os suiços de colocarem a bola nas costas da defesa subida (1º e 2º golos). No primeiro golo do Young Boys Lisandro falha a intercepção relativamente fácil (erro individual) e a linha de médios não recua para ajudar A. Almeida e facilita finalização ao adversário, no quinto golo é Pedro Pereira que não intercepta a bola em boas condições para o fazer e Chrien não baixa com para junto da linha defensiva o suficiente. 

O segundo golo surge de uma bola nas costas da linha defensiva que não baixa quando exposta à profundidade com a bola a entrar entre Jardel e André Almeida que não fechou espaço interior, os jogadores parecem confiar no fora-de-jogo e nem Pedro Pereira, homem mais próximo, acompanha a desmarcação de Sulejmani que fica isolado frente a Varela.

Nota para o 4º golo do Young Boys. Com o Benfica a pressionar alto no corredor lateral, os dois médios centro adiantaram-se para dar cobertura ao extremo ficando um espaço considerável entre linhas. O lateral jo Young Boys jogou longo e Kalaica ganhou a primeira bola mas a segunda foi dos suiços com Pedro Pereira  a ficar fora do lance.

As ausências do Benfica neste jogo atenuariam estes problemas (Luisão, Eliseu e Grimaldo) mas as vendas de Semedo e Lindelof talvez tenham de ser colmatadas. Para já, jogadores como Hermes e Pedro Pereira bem como Lisandro parecem ainda precisar de tempo para chegarem ao nível elevado dos seus antecessores

sábado, 15 de julho de 2017

Sporting e transição defensiva - o 2º golo do Valência

No post anterior refiro alguns aspectos que têm marcado os jogos amigáveis do Sporting neste inicio de época, nomeadamente  os interiores muito por dentro e alguma falta de coordenação dos dois jogadores a alinhar no meio-campo.

O 2º golo do Valência surge após Mathieu perder a bola no meio-campo dos espanhóis mas vale a pena perceber o enquadramento de todo o lance que começa com Bruno Fernandes a baixar para ter bola sobre a esquerda do ataque. Neste momento Iuri Medeiros, ala, já está entre linhas e Bas Dost recua com Doumbia a ameaçar ir na profundidade procurando as costas da linha defensiva. Fábio Coentrão baixo acaba por ser a linha de passe utilizada e neste momento Iuri faz diagonal para fora. Nota para o Valência que com duas linhas de 4 compactas e alto + os dois avançados consegue controlar o lance.



O Sporting acaba por rodar o jogo por trás até à direita onde é o lateral que recebe. Deste lado, Podence (ligeiramente por dentro), Dost e Doumbia procuram profundidade os três que é controlada pela linha defensiva valenciana. Jogo volta aos centrais




No momento em que a bola volta à esquerda e Mathieu inicia a condução de bola as duas linhas de 4 do Valência estão muito juntas, também pelo profundidade dada anteriormente pelo Sporting, que fez os espanhóis recuar e pelo posicionamento dentro e adiantado de Iuri. É isto que permite ao francês ter espaço para levar a bola. Os problemas começam aqui. Rodrigo, avançado do Valência impede com a orientação do corpo a mudança de corredor e Mathieu prefere não travar condução antes de ser encurralado. Bruno Fernandes também não é rápido a dar linha de passe quando o francês começa a conduzir bola assumindo, talvez, que este iria continuar a progressão.





Mathieu continua a conduzir e é possível verificar uma desvantagem numérica e espacial. E aqui, no meu entendimento é também visível o principal paradoxo do jogo sportinguista no momento. Apesar de ter constante presença entre linhas, tem dificuldade em jogar dentro do bloco adversário principalmente quando este é compacto (Valência e Belenenses). Mathieu tenta o passe entre linhas mas Iuri está rodeado de 4 jogadores. Os dois avançados ocupam uma posição à mesma altura que o português e o passe é naturalmente interceptado



Após a perda de bola o posicionamento dos dois médios que estão muito próximos à profundidade e saem ambos na pressão a Rodrigo deixando um espaço enorme no meio passível de ser aproveitado, permitem à equipa do Valência chegar à área do Sporting rapidamente.



Tal como contra o Belenenses na semana passada, neste jogo o posicionamento ofensivo do Sporting levou a que o adversário fechasse o corredor central sendo complicado aos leões fazerem a bola chegar a esse espaço com bola. Para jogar entre linhas com maior frequência frente a equipas que fecham bem o meio é importante criar vários engodos e desorganizar o adversário. Por outro lado, como foi visível no lance aqui apresentado, com os jogadores muito profundos e passe vertical a solicitar entre linhas em caso de intercepção a equipa pode ficar desequilibrada pois no momento da perda de bola uma quantidade assinalável de jogadores poderá ficar à frente da linha da bola expondo a linha defensiva obrigando-a a baixar


domingo, 9 de julho de 2017

Sporting 2017/2018 - Primeiras impressões e gestão entre linhas

A principal novidade no Sporting 2017/2018 frente ao Belenenses em comparação com a temporada anterior acabou por ser a colocação dos dois alas, Iuri Medeiros e Matheus Oliveira, em zonas interiores/corredor central, sendo esse o ponto de partida que acabou por condicionar a restante dinâmica.

Iuri e Matheus começavam já por dentro (coincidindo em zonas interiores e entre linhas) com Dala também a baixar para tentar receber. Ver imagem abaixo





Naturalmente, os laterais ficaram encarregues de conferir largura. Piccini à direita apareceu mais vezes adiantado, nomeadamente nos primeiros 20 minutos, que Geraldes à esquerda. 

Não tendo que ser obrigatoriamente desta forma, a colocação dos dois alas a começar dentro e Dala a pedir em apoio do lado da bola, parece ter sido causa de um aspecto que marcou a primeira parte, a falta de profundidade do Sporting e consequente incapacidade para chegar com frequência ao último terço.

Os alas por dentro a recuar para dar apoio ao portador da bola e os avançados sem realizarem movimentos para a frente, raramente e também por acção dos laterais os leões conseguiam fazer recuar a linha defensiva do Belenenses que se apresentou alta e avançar no campo.

Petrovic e Battaglia no meio-campo contribuíram para a aglomeração, e por vezes sobreposição, no corredor central. Jogaram muito próximos entre si com o sérvio a colocar-se demasiado adiantado sem se revelar uma linha de passe válida, situação parcialmente resolvida na 2ª parte quando baixou com maior frequência para junto dos centrais realizando uma saída a 3.




Na imagem é possível verificar o referido acima.  Piccini adiantado  faz linha defensiva contrária baixar com 5 jogadores entre linhas todos de frente para o portador da bola. Paradoxalmente, o Sporting não conseguiu jogar nesse espaço, na minha opinião, por duas razões: a colocação dos alas entre linhas numa fase precoce da construção fez com que o Belenenses fechasse o corredor central e não visse necessidade de baixar linha defensiva não aumentando o espaço de jogo efectivo, controlando a largura com os extremos a acompanhar laterais, e também porque Iuri e Matheus baixavam para fora do bloco azul, fazendo com que quando surgia um passe vertical entre linhas o portador da bola ficasse sozinho com poucas opções de passe (inclusive à largura), agravado pelo facto de o adversário estar concentrado no meio. Na imagem Dala recebe entre linhas um passe de Iuri, Battaglia e Piccini não acompanham a progressão do lance e Matheus demora a fazê-lo, ficando o angolano praticamente sozinho contra vários jogadores adversários.




Na primeira parte a excepção a estes lances aconteceu quando Dala descaia  entre linhas a passe de Iuri, que havia recuado, procurava Piccini à largura




Na fase de construção o Sporting tentou ainda Battaglia a abrir na esquerda com a projecção do lateral, uma situação que carece ainda de treino.

Na 2ª parte o Sporting modificou algumas destas situações. Desde logo, com a entrada de Bruno Fernandes passou a ter alguém preocupado em arrastar a defesa contrária (que de si também já se mostrou mais conservadora) através de vários movimentos explorando também o espaço de dentro para fora, algo recorrente dos jogadores nesta posição com Jorge Jesus. Na imagem, o jogador português leva os defesas e Petrovic procura a largura no corredor oposto.




Por outro lado, Petrovic apareceu a jogar uns metros mais atrás, o suficiente para Battaglia (enquanto estiveram em campo) ter um pouco mais de espaço para jogar. Os alas apesar de estarem em espaço interior não procuraram tanto o corredor central e a aglomeração da primeira parte desapareceu, fazendo com que existisse maior dúvida na defesa adversária, chegando o Sporting com maior facilidade ao último terço adversário.

Globalmente o jogo do Sporting trouxe duas novidades que a serem mantidas, com o devido treino me parecem positivas para o jogo da equipa: mais gente no corredor central em comparação com a época anterior, e relacionado com este aspecto, a correcção daquele que foi, no meu entendimento o maior entrave ao desenvolvimento da equipa em 2016/2017, a procura constante de combinações nos corredores laterais para acabar em cruzamento, onde a variação de corredor não era equacionada demasiadas vezes, forçando pelo mesmo lado.